O estigma do dia passava por ser o do último feriado da “Restauração da Independência”. Depois de um ano a discutir feriados e a ouvir argumentos e contra-argumentos para acabarem todos menos o preferido de cada um, chegámos, finalmente, à vaca-fria… que este ano nem se sentiria (porque calhou a um sábado) e para o ano também não se vai sentir (por ser domingo)… Provavelmente quando chegarmos a 2014 já ninguém se lembra deste feriado… até porque poucos eram os que sabiam o significado deste e de qualquer outro.
Não vejo o “1.º de Dezembro” como um feriado imprescindível… como não vejo outros e como criaria outros ainda…
Em primeiro lugar, a partir do momento em que temos um Dia Nacional (para comemorar o sentido identitário, o 10 de junho), o conteúdo evocativo de um feriado de independencia está esgotado. Do mesmo modo, temos dois feriados que comemorarm o regime (o 25 de abril e o 5 de outubro), não precisariamos de comemorar um deles, eventualmente o mais longínquo. Acontece que o 5 de outubro teria sempre de ser comemorado… não pela Implantação da República – que se equipararia ao 25 de abril, uma revolução – mas, acima de tudo, pela fundação do país (o 5 de outubro de 1143 e a assinatura do Tratado de Zamora). Em boa verdade, o 5 de outubro devia ser o Dia Nacional de Portugal, e o 10 de junho, a existir, (teve dois ou três anos sem existência depois do 25 de abril) um dia de comemoração da cultura portuguesa.
Tirando as festas religiosas da Páscoa e do Natal, não vejo necessidade de termos feriados religiosos como o 15 de agosto ou o 8 de dezembro. Já o 1 de novembro, me parece um dia feriado a ser mantido, pela sua carga simbólica comunitária.
Em segundo lugar, parece-me um bocado provinciana (ainda mais nos tempos modernos) a ideia de, em 1640, termos recuperado a nossa independência… acima de tudo porque não me parece que alguma vez a tenhamos perdido.
Em 1580 não fomos ocupados por nenhum país que nos tenha usurpado a independência. Em 1580, Filipe de Habsburgo – filho do Imperador Carlos V -, já sendo rei de Espanha desde 1556, foi coroado Rei de Portugal. Filipe I era neto de D.Manuel I, era o filho mais velho da filha primogénita do Rei Venturoso. Ou seja, Filipe de Habsburgo era tão português como a maior parte dos reis de Portugal… apenas um dos seus progenitores era português!
Claro que nenhum país gosta de ser governado por um rei estrangeiro, mas os Filipes tiveram a inteligência de não unir Portugal à Espanha e de agir como sendo uma mesma cabeça com duas coroas. Portugal tinha a sua independência assegurada e o governo do país era assegurado por um vice-rei nomeado pelo monarca. Alguns destes vice-reis eram estrangeiros, mas a maior parte até era português.
Durante a dinastia filipina Portugal não foi ignorado, como alguns querem fazer querer e pôs-se até a hipotese de Lisboa passar a ser a capital do império governado pelos Filipes de Habsburgos. Na Universidade de Coimbra, por exemplo, foram grandes as transformações (positivas) operadas neste período. Para sublinhar apenas o simbolismo, são de 1591 os ‘sextos estatutos’, e de 1634 a primeira obra de vulto no Paço das Escolas, a Porta Férrea.
Claro, repito, que era melhor sermos governado por um rei, só nosso, português, do que por um “rei estrangeiro”, mas a verdade é que o sonho de muitos monarcas portugueses era casar os seus filhos primogénitos com princesas de Espanha, para um dia um rei português governar a partir de Madrid.
Nos dias de hoje, quando estamos a nossa acção governativa – PELA TERCEIRA VEZ EM 40 ANOS – é controlada por três entidades estrangeiras a quem devemos dinheiro, quando de Bruxelas vêm regras de como é que havemos de estar nas nossas cozinhas ou mexer o tacho do feijão, não me parece que tenhamos mais independência do que tinhamos entre 1580 e 1640. Não consta que haja interesse em tornar feriado o dia em que a Troika sair de Portugal…