A Imprensa Local e a História das comunidades
“A imprensa regional é um importante e valiosíssimo repositório histórico, que interessará fomentar e valorizar”, afirmámos na sessão de apresentação do livro “Bussaco: A Batalha e o Convento – 200 anos da Guerra Peninsular”, de Fernando Ferraz da Silva, nosso antecessor nas funções de diretor e colaborador assíduo do Jornal da Mealhada.
Os jornais locais apresentam-se – hoje, como há muitas dezenas de anos – como fontes particulares para o conhecimento dos acontecimentos, mas também, dos valores, das ambições, das preocupações e do pensamento das comunidades ao longo do tempo. Talvez pelo facto de serem escritos com a preocupação do informar para a actualidade, para a contemporaneidade, de procurarem provocar um efeito imediato nos leitores, os artigos jornalísticos – noticias, reportagens e crónicas de opinião – acabam por ser um retrato genuíno da estória, ou da história que ainda não é História, de facto. Não é, ainda, mas pode vir a ser.
A imprensa local regista um valioso fio dos dias que é condutor direto à história e à memória que nem ao tempo resiste.
Talvez sensibilizados pela edição – que teve lugar ontem, 5 de outubro, em Penacova – do livro “Penacova e a República na Imprensa Local”, do nosso amigo e colaborador David Almeida, e da publicação do mais recente livro de Fernando Ferraz da Silva, que o Jornal da Mealhada apoia, sentimo-nos na obrigação de sublinhar a necessidade de valorizar esta santa aliança que é preciso continuar a estabelecer entre a imprensa local e a investigação histórica.
Nos jornais de época vamos encontrar – as palavras são de David Almeida na nota introdutória da sua obra – “textos jornalísticos que, temos consciência disso, se revelam, por vezes, sectários, partidarizados, transmitindo-nos, desse modo, uma visão parcelar e fragmentada da realidade, em especial das situações ideologicamente mais conotadas”. Mas tem consciência disso o investigador avisado.
“Os periódicos locais, são, deste modo, fontes privilegiadas de informação. Em Penacova, são mesmo, em muitas situações, registo único das vivências de muitos dos nossos antepassados que, um pouco por todo o concelho, participaram, já lá vão cem anos, na mudança do regime político que determinou o curso da nossa história recente”, assevera o autor de “Penacova e a República na Imprensa Local”.
“É possível traçar um fio condutor e credível que pode ser o ponto de partida para outros estudos sobre história local de que Penacova não é, infelizmente, pródiga”, afirma David Almeida.
Com tudo isto queremos apenas, sublinhar, a importância que tem investigarmos os nossos jornais – quando existem – e colaborarmos hoje, com os jornais, para que mais tarde, os vindouros – entre o papel delicado ou as encadernações de livros, possam conhecer o hoje, amanhã.
O livro “Bussaco: A Batalha e o Convento – 200 anos da Guerra Peninsular”, que foi escrito com uma tão forte preocupação local, pedagógica e de registo dos testemunhos possíveis das pessoas que viveram a batalha, é o exemplo cabal e valioso da aliança que a história e a imprensa local têm como missão fomentar!
Editorial do Jornal da Mealhada de 6 de outubro de 2011
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