A tentação do abismo ou a profilaxia da catástrofe?
Teodora Cardoso, prestigiada economista portuguesa, e administradora do Banco de Portugal, declarou, no início desta semana, que entendia ser preferível que o pedido de ajuda externa por parte do Governo português fosse feito quanto antes. Na sua opinião, a antecipação do recurso ao Fundo Europeu e, em consequência, ao Fundo Monetário Internacional (FMI), no atual contexto, traria vantagens.
Ao Diário Económico, Teodora Cardoso garantiu: “É mais fácil se tivermos um apoio externo, desde logo porque isso permite que o ajustamento não seja tão abrupto. Feito sozinho, para os mercados acreditarem nele, o tal ajustamento teria de ser brutal. Com o apoio de uma dessas instituições (FMI ou Fundo Europeu) poderá ser menos abrupto”.
A ‘entrada’ do FMI em Portugal é, em tese, algo que ninguém deseja. Para além da questão subjetiva relacionada com o reconhecimento de que precisamos de alguém de fora para nos governar, é particularmente violenta a ideia de que poderemos ter de ser sujeitos a medidas tomadas sob a forma de terapia de choque, por parte de tecnocratas sem rosto e sem pátria.
O Governo garante que não vai ser preciso recorrer à ajuda externa. A comunicação social estrangeira informa que os governos francês e alemão estão a pressionar para atirarmos a toalha ao chão. Ao mesmo tempo, são estas chancelarias europeias que desmentem a informação. A oposição – na sua diversidade partidária – oscila entre a crítica ao Governo e a critica aos mercados que, entretanto, nos vendem dinheiro a um preço exorbitante.
O período de campanha eleitoral para as presidenciais, que quase nem se nota, parece refrear a discussão do problema, com os candidatos a utilizarem o assunto para criticar o Estado e o estado a que as coisas chegaram. O ano de 2011 entrou a cambalear…
Os portugueses têm uma espécie de tentação para o abismo. É o fado. E essa portugalidade começa a fazer-se sentir nalguns sectores importantes da sociedade. Nos Zés e nas Marias, que ainda trabalham, que já se mostram cansados de atravessar um túnel num comboio que é dirigido por alguém em quem já não se confia, numa carruagem em que ninguém se cala, com todos os viajantes a darem palpites e a fazerem acusações – umas de carácter, outras de competência – num ambiente caótico, quase paranóico.
Hoje, como nunca antes, questão parece impôr-se: Finda a campanha eleitoral presidencial, não será preferível, de uma vez por todas, pedir a ajuda externa e antecipar o que pode ser a resolução do problema? Antes de atingirmos o abismo… o verdadeiro abismo.
Teodora Cardoso, prestigiada economista portuguesa, e administradora do Banco de Portugal, declarou, no início desta semana, que entendia ser preferível que o pedido de ajuda externa por parte do Governo português fosse feito quanto antes. Na sua opinião, a antecipação do recurso ao Fundo Europeu e, em consequência, ao Fundo Monetário Internacional (FMI), no atual contexto, traria vantagens.
Ao Diário Económico, Teodora Cardoso garantiu: “É mais fácil se tivermos um apoio externo, desde logo porque isso permite que o ajustamento não seja tão abrupto. Feito sozinho, para os mercados acreditarem nele, o tal ajustamento teria de ser brutal. Com o apoio de uma dessas instituições (FMI ou Fundo Europeu) poderá ser menos abrupto”.
A ‘entrada’ do FMI em Portugal é, em tese, algo que ninguém deseja. Para além da questão subjetiva relacionada com o reconhecimento de que precisamos de alguém de fora para nos governar, é particularmente violenta a ideia de que poderemos ter de ser sujeitos a medidas tomadas sob a forma de terapia de choque, por parte de tecnocratas sem rosto e sem pátria.
O Governo garante que não vai ser preciso recorrer à ajuda externa. A comunicação social estrangeira informa que os governos francês e alemão estão a pressionar para atirarmos a toalha ao chão. Ao mesmo tempo, são estas chancelarias europeias que desmentem a informação. A oposição – na sua diversidade partidária – oscila entre a crítica ao Governo e a critica aos mercados que, entretanto, nos vendem dinheiro a um preço exorbitante.
O período de campanha eleitoral para as presidenciais, que quase nem se nota, parece refrear a discussão do problema, com os candidatos a utilizarem o assunto para criticar o Estado e o estado a que as coisas chegaram. O ano de 2011 entrou a cambalear…
Os portugueses têm uma espécie de tentação para o abismo. É o fado. E essa portugalidade começa a fazer-se sentir nalguns sectores importantes da sociedade. Nos Zés e nas Marias, que ainda trabalham, que já se mostram cansados de atravessar um túnel num comboio que é dirigido por alguém em quem já não se confia, numa carruagem em que ninguém se cala, com todos os viajantes a darem palpites e a fazerem acusações – umas de carácter, outras de competência – num ambiente caótico, quase paranóico.
Hoje, como nunca antes, questão parece impôr-se: Finda a campanha eleitoral presidencial, não será preferível, de uma vez por todas, pedir a ajuda externa e antecipar o que pode ser a resolução do problema? Antes de atingirmos o abismo… o verdadeiro abismo.
Editorial do Jornal da Mealhada de 12 de janeiro de 2011