O que podes fazer pelo teu país?
A frase é atribuída a John F. Kennedy, presidente-mártir dos Estados Unidos da América, que ocupou a Casa Branca de 1961 a 1963: “Não perguntes o que pode o teu país fazer por ti, mas o que podes fazer tu pelo teu país!”. A expressão está a completar meio século desde que foi proferida pela primeira vez e é especialmente citada em fases complicadas da vida das sociedades ocidentais, desde então.
O dito serve, desde há poucas semanas, sob a forma de desafio, para os jornalistas da emissora TSF ajudarem na exortação à resiliência e à esperança e dos portugueses. Para tal, têm perguntado a figuras públicas nacionais – na maior parte dos casos ligadas à acção política e cívica – “o que pode cada um fazer pelo país?”.
As respostas só surpreendem por serem quase todas iguais… Os entrevistados, por norma, começam por dizer que o que podem fazer é o que já fazem. E começar com um auto-elogio quase nunca é bom sinal – até porque, pelo que se tem visto, o que tem sido feito, sendo bom estará longe de ser o necessário e o adequado para que vivamos a nossa vida colectiva com tranquilidade e prosperidade.
Ao ouvir estes depoimentos no rádio, várias conclusões – quase todas negras, ou pelo menos cinzentas – nos assolam. Em primeiro lugar os nossos lideres estão auto-satisfeitos e isso é meio caminho andado para a resignação. Em segundo lugar, reconheça-se que os efeitos não serão todos positivos e que se calhar ou estamos a fazer pouco pelo país, ou estamos a fazer mal, ou então não estamos a fazer o que devia ser feito.
As épocas de crise são óptimas oportunidades de mudança – mudança de comportamento, mudança de atitudes, mudança de vida. Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido, especialmente em períodos críticos da vida do seu país, terá dito que as catástrofes, para um optimista, eram sempre grandes oportunidades e factores de esperança. Mas também não interessa mudar só por mudar – e como estamos em maré de citações – nem “mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma”, como escreveu Tomás de Lampedusa em ‘O Leopardo’.
É esse novo rumo que nos falta descobrir. Um novo rumo que poderá não ser necessariamente ou estritamente político. Um novo rumo que nos faça sermos, individualmente, promotores de esperança junto dos que nos rodeiam. Um novo rumo que nos faça ser bons cidadãos, bons pais e mães, bons filhos, bons amigos, bons profissionais, bons vizinhos, bons colegas, bons ouvintes, sermos simplesmente bons. Um novo rumo que nos faça acatar a autoridade dos mais velhos, dos professores, dos mais sábios, sem subserviências nem autoritarismos. E acima de tudo um novo rumo cheio de sentido de acção, de intervenção, de militância, de luta e defesa dos valores que acreditamos, pelo incentivo ou pelo exemplo “desse serviço”.
Editorial do Jornal da Mealhada de 27 de Outubro de 2010