5 de Setembro: Dia D do Bussaco!
Não nos envergonhamos de afirmar que fomos dos primeiros apoiantes da candidatura da Mata Nacional do Bussaco às 7 Maravilhas Naturais de Portugal. Acompanhámos cada passo da candidatura e – com a parcialidade de quem tem como mote ser um jornal “regionalista”, “na defesa intransigente dos interesses da região onde se insere” – fomos apelando à mobilização e ao voto de todos os nossos leitores na única candidatura finalista dos distritos de Aveiro, Coimbra e Viseu ou localizada num raio de várias centenas de quilómetros.
(Faça-se um parênteses para deixar claro que, apesar da cerca da Mata Nacional do Bussaco se localizar, exclusivamente, no território do concelho da Mealhada – distrito de Aveiro –, não é de todo admissível que não se entenda esta candidatura – e a eventual eleição – como sendo de toda a Serra do Bussaco e, especialmente, da sua paisagem. Ou seja, integra, naturalmente, os territórios de Anadia, e, principalmente, de Mortágua – distrito de Viseu – e Penacova – distrito de Coimbra. Haverá paisagem mais caracteristicamente ‘bussaquiana’ do que a das aldeias de Trezoi, Meligioso, Moura, Sula ou Santo António do Cântaro? Essa é a paisagem do Bussaco popular, da montanha moldada pelo homem, como tão bem descreveu Fialho de Almeida).
Há poucos dias ouvíamos alguém garantir que não era justa a candidatura, na categoria de ‘Florestas e Matas’, de duas paisagens consideradas já Património da Humanidade com a Mata Nacional do Bussaco, que ainda hoje reúne razões para que se faça o apelo à requalificação, ao investimento por parte dos responsáveis governamentais. Retorquimos, na altura, que a justiça será dada pelo volume de votos e não por quaisquer outros critérios. Ganhará a candidatura que mais votos tiver. Ganhará a candidatura que for suportada por uma comunidade mais mobilizada, mais empenhada, que se mostre mais orgulhosa do seu património e da sua herança.
Choca-nos, confessamos, que no próprio nome das duas candidaturas oponentes à da Mata do Bussaco apareça a indicação “Património da Humanidade”. Também não somos indiferentes ao argumento de que não é completamente transparente o facto de o concurso ser patrocinado pelo “Turismo dos Açores” – região que conta com um quarto das candidaturas e com a realização das cerimónias de lançamento e de apresentação dos resultados. Mas já nada disso é importante, agora que o concurso está praticamente no fim.
O facto de a candidatura do Bussaco já ter estado na liderança permite-nos pensar que –depois do boom que resultou da transmissão televisiva de um programa de grande audiência em cada uma das candidaturas (de que o Bussaco também beneficiou) –, com mais um pouco mais de esforço, a eleição pode alcançar-se.
É por isso que a iniciativa “Abrace o Bussaco”, no próximo domingo, se reveste de particular importância. Trata-se de uma iniciativa que vai merecer a atenção de meios de comunicação social com carácter nacional o que permitirá difundir um último apelo ao voto, benefício que pode não ser acessível aos mais directos oponentes. Por outro lado, e talvez mais relevante, é uma realização que está a merecer o interesse e a adesão de muitas pessoas, o que é fundamental para o reconhecimento colectivo de que está feita a reconciliação dos cidadãos com o património do Bussaco. Uma reconciliação que tem benefícios económicos importantes para toda a região – como já tantas vezes aqui o demonstrámos – e que acaba por ser o que fica deste concurso, a grande vitória desta candidatura. E, isso sim, é importante e significativo.
Visitámos, recentemente, três dos sete locais que em 2007 foram consagrados como “Maravilhas de Portugal”. Em apenas um deles é feita a referência à honraria, com a bandeira – já desbotada – hasteada, discreta, ao lado do monumento. A importância deste concurso está muito mais na campanha, no burburinho e na divulgação das candidaturas que permitiu, do que no valor intrínseco da distinção no futuro. Também neste caso – e esta é apenas a nossa opinião – o caminho é mais importante do que o acto de chegar ou de ser o primeiro.
E do caminho feito ficam três garantias. A primeira é a de que o Bussaco é um património natural riquíssimo (mesmo que tenha sido plantado pelo homem, não deixa de ser uma grande obra da natureza) que não tem paralelo em Portugal. A segunda garantia é a de que o facto de não ser, ainda, Património da Humanidade é, apenas, circunstancial e de natureza meramente política. A terceira garantia é a de que a comunidade da região e do concelho da Mealhada, especialmente, recebeu a ‘devolução’ do Bussaco de braços abertos e está ansiosa por se envolver na sua requalificação e em causas comuns de mobilização colectiva.
O ‘Abraço ao Bussaco’ no próximo domingo, mais do que uma campanha de mobilização de massas é um gesto de demonstração de carinho e de acolhimento, um gesto de manifestação de afectividade e de amor – pelo regresso do filho pródigo que chegou finalmente a casa, ao convívio dos que o mais amam.
Editorial do FRONTAL de 31 de Agosto
Editorial do Jornal da Mealhada de 1 de Setembro