Palácio de Belém, 17 de Maio de 2010, às 20h 15m
«A FOTO DO DIA»

O Presidente da República escolheu o terceiro dia depois do regresso do Papa ao Vaticano, a véspera do fim do prazo e o Dia Mundial contra a Homofobia para dizer que é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, que acha um disparate e uma excentricidade essa denominação e que «não é verdadeira a afirmação de que a inexistência do casamento entre pessoas do mesmo sexo corresponde a um fenómeno residual no mundo contemporâneo, um resquício arcaico típico de sociedades culturalmente mais atrasadas».O Presidente pegou na bola a meio campo driblou sozinho e à frente da baliza, aberta, sem o guarda-redes, quando já tudo festejava o golo e o veto político, chutou para o céu e declara: «Assim, decidi promulgar hoje a lei que permite o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo».Sou cavaquista. Acho o Presidente da República uma reserva moral da Nação. Um homem especial ao leme de um país completamente desgovernado, pilotado por alguém que sabe que está a prazo e procura incentivar a politica-da-terra-queimada.Estou desiludido com a declaração de Cavaco. É-me completamente indiferente se a união de facto entre pessoas do mesmo sexo se chama casamento, união civil, marriage ou outra coisa qualquer. Choca-me que o Presidente, que manifestou a sua oposição ao diploma de forma inteligente, tenha preferido o pragmatismo eleitoral de quem quer ser reeleito à primeira volta e tenha usado o mesmo argumento de Sócrates aquando da subida do IVA: “Os portugueses são uns lorpas e comem qualquer coisa que lhes dermos!”Os portugueses não são nenhuns parvos nem pacóvios! Não são burros nem papalvos. Não são atrasados nem lorpas! E perceberam que Cavaco preferiu jogar pelo seguro, preferiu o eleitoralismo barato, preferiu não afrontar a Esquerda e esvaziar argumentos que Alegre – que ainda é mais homofóbico que ele – poderia usar contra si. Sócrates e o Partido Socialista nunca quiseram aprovar esta Lei. A apresentação, em Fevereiro, foi uma posição de força, um sinal de pseudo-modernidade e, acima de tudo, uma forma de obrigar comunistas e bloquistas a votar ao lado do PS. Deram-se ao luxo, até, de criar um imbróglio legal – o da proibição de adopção por pessoas do mesmo sexo ao mesmo tempo que colocam como premissa desse casamento ‘o objectivo de constituir família’. Os socialistas estavam convencidos que Cavaco ia mandar para o Tribunal Constitucional esta mudança no Código Civil no sentido da proibição da adopção por pessoas do mesmo sexo – que é, claramente, uma inconstitucionalidade, uma vez que uma pessoa heterosexual sozinha pode fazê-lo! -. Mas Cavaco não mandou e agora até promulgou a lei!O nosso mundo está ao contrário!