Educação para a catástrofe

As consequências das fortes chuvas da passada sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2010, na ilha da Madeira foram devastadoras. A força da água mostrou-se destruidora perante casas, estradas, muros e toda a espécie de construção humana. A fragilidade do homem quando confrontada com a natureza tornou-se, uma vez mais, evidente.
Porque acontecem estes fenómenos climatéricos? Procurar-se-ão respostas no sentido de saber, também, por que razão se observaram estas consequências e o que poderia ter sido feito para as dirimir ou minorar. No caso da Madeira – como já se havia identificado no caso do terramoto do Haiti – terão sido elementos fundamentais para este resultado as políticas de ordenamento do território (ou a ausência delas) e a falta de instrumentos capazes de fazer uma previsão meteorológica e geofísica atempada. O hábito contemporâneo de impermeabilização dos solos (com o cimentar de valetas, o entubar de ribeiras e emparedar de cursos de água) terá contribuído, também, para o resultado do passado fim-de-semana, na Madeira.
A aproximação gradual que estes fenómenos vão fazendo relativamente à nossa realidade faz-nos perguntar se estaremos preparados se, ou quando, acontecerem no nosso território. E provavelmente a resposta será pouco animadora.
Nas escolas até poderá haver sensibilização para os comportamentos a tomar em caso de incêndios ou terramotos, por exemplo. Mas está longe de ser suficiente. Um simulacro uma vez na vida não permite às pessoas assimilarem conhecimentos sobre que comportamento tomar em caso de emergência. Mesmo que isso esteja previsto em documentos estratégicos e planos de segurança, essa informação nunca chegou aos cidadãos. E é pena!
Um porta-voz da Protecção Civil da Madeira afirmou, num dos noticiários do fim-de-semana, que as pessoas, sem conseguirem definir prioridades no momento em que seria necessário fugir das derrocadas e dos aluviamentos, perderam tempo – algumas delas perderam mesmo a vida –, não souberam fazer, ou salvaguardar, o que era essencial. Ou seja, não tendo conseguido adoptar os comportamentos mais apropriados, acabaram por dificultar em vez de facilitar num momento de pânico.
Há comunidades, residentes em zonas do globo recorrentemente assoladas por fenómenos climatéricos e geofísicos, que se prepararam para saber agir de forma rápida e eficaz perante a ocorrência de cheias, de terramotos, tsunamis, tornados e outros fenómenos. Têm enraizada uma cultura de protecção civil. É esse exemplo que devíamos seguir e procurar compreender. Até porque deixaram de ser longínquos fenómenos extremos da força da natureza, a própria história de Portugal refere a existência, no passado, de momentos dramáticos – como o terramoto de 1 de Novembro de 1755, por exemplo – que voltarão a repetir-se, sem, no entanto, sabermos quando.
“Se avisados a tempo, os madeirenses teriam sabido prevenir-se”, garantia um climatologista na televisão. Temos dúvidas a este respeito. Como se pode avisar uma comunidade inteira em tempo útil. Não será nem pela televisão nem pela rádio – poderá ser útil mas não será, certamente, suficiente –, não será com o toque de sirenes das corporações de bombeiros porque esse toque serve, apenas, para chamar os soldados da paz. Também não será com o toque ‘a rebate’ do sino da Igreja, que terá outros fins.
Mesmo que convenientemente alertados, para onde devem deslocar-se os cidadãos em caso de necessidade de evacuação, por exemplo? Talvez seja uma resposta a que só se venha a ter acesso quando estivermos perante a necessidade.
A experiência de outros deve fazer-nos pensar e tomar medidas para não cairmos nos mesmos erros e, eventualmente, sofrer as mesmas ou ainda piores consequências.