Avaliando o Carnaval da Bairrada de 2010
O Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada de 2010 poderá ter sido o melhor de que há memória no sambódromo Luís Marques, na zona desportiva da Mealhada. É certo que foi ensombrado pelas ameaças de mau tempo e arrasado pelo frio que atacou o país neste Entrudo, facto que poderá justificar a fraca participação de público – especialmente no domingo. De qualquer forma, nunca as escolas se apresentaram de forma tão homogénea na qualidade das fantasias, na exuberância da apresentação dos enredos, no cuidado com coreografias e musicalidade. Tal como temos feito nos últimos anos, assumimos o papel de promotores da avaliação do trabalho das escolas de samba. Chamamos a nós, também, o direito de emitir a nossa opinião sobre a organização do cortejo.
O percurso do sambódromo
No final do Carnaval de 2009, apelámos à necessidade de serem tomadas medidas no sentido de ser alterado o percurso – eventualmente mudada a localização. Os dirigentes da Associação do Carnaval da Bairrada foram sensíveis ao apelo e à necessidade, e o percurso este ano teve um novo local de dispersão. Ouvimos da parte de alguns dirigentes das escolas de samba a opinião de que o percurso é muito maior, a evolução da escola de samba, que se fazia em cinquenta minutos, se fez, em 2010, em cerca de uma hora e quarenta. De qualquer forma, e na nossa opinião, feita na óptica do espectador, o percurso feito este ano revelou-se uma boa opção.
O som e o atraso
Em 2010, também não foram significativos os problemas com o som e com o atraso no início do desfile. Já havíamos verificado esta situação em 2009, e registámo-lo também este ano. Fazemos referência a este aspecto porque entendemos que, no que respeita à hora de início dos cortejos, se tratou, durante muitos e muitos anos, de um defeito crónico do Carnaval da Mealhada.
No domingo, no entanto, registou-se um longo tempo de intervalo entre a terceira e a quarta escola a desfilar. O problema, segundo pudemos apurar, terá sido de natureza técnica com uma das escolas de samba, facto que terá obrigado a organização a alterar a ordem previamente estabelecida para a saída das escolas no corso. O resultado do atraso levou a que muitas pessoas se fossem embora – mais do que o normal – e que a última escola fizesse parte do percurso já de noite. Esse facto foi prejudicial para o espectáculo e para as escolas em causa (a que teve os problemas e a última a desfilar). Compreendemos que há sempre problemas e imponderáveis que todos lamentamos. Consideramos, no entanto, que, através do sistema de som, deveria ter sido dada uma explicação e feito um apelo para que os espectadores não abandonassem o sambódromo. Na terça-feira tudo correu de forma impecável a este nível.
Espectadores
Enriqueceria, de sobremaneira, o espectáculo apresentado pelas escolas de samba se cada uma – ou todas em conjunto – distribuísse pelos espectadores uma brochura com o seu roteiro, com a explicação do enredo e com uma breve apresentação do significado de cada uma das alas, destaques e diferentes figurantes. Seria uma forma de o espectador ter uma melhor percepção do que estava a ver e, assim, o valorizará, certamente.
A avaliação das escolas de samba
A avaliação feita pelo Jornal da Mealhada é já um dado adquirido. E ainda bem. Todas as escolas colaboraram, com a entrega de todas as informações relativas ao que iam apresentar no sambódromo, mas, também, com contributos relativos à própria organização da avaliação. Colaborações que se revelaram muito positivas. Por outro lado, o facto de em 2010 os resultados globais das escolas serem muito superiores aos de 2009 – todas as cinco escolas têm, em 2010, uma pontuação superior à pontuação da escola que em 2009 ficou em segundo lugar – demonstra a preocupação das escolas em melhorar e em procurar superar deficiências. Essa é a grande vitória da avaliação.
O luso, do luso-brasileiro
O Carnaval na Mealhada é Luso-Brasileiro. Deve procurar ser o melhor de Portugal nesta característica. Estamos convencidos que já é o Carnaval mais brasileiro de Portugal. No entanto, é necessário que não se perca a dimensão popular e crítica característica do Entrudo português. Essa dimensão também faz parte do nosso Carnaval. O saudoso Grupo Macacu é elemento fundador do Carnaval da Mealhada, mais recentemente o Grupo Sapatada mantém uma tradição bonita. Encadeados pelo brilho da brasilidade do nosso Carnaval pode dar a ideia de que depreciamos a dimensão portuguesa. Não é verdade. Os grupos de crítica merecem o nosso aplauso e elogio, recebendo uma palavra de agradecimento colectivo e de incentivo a continuarem e a aumentarem em número e em criatividade.
O futuro do Carnaval
No final do Carnaval do ano passado, lembrámos que em 2009 se haviam completado trinta anos desde o primeiro Carnaval da Criança, festa infantil que, durante duas décadas se realizou no Domingo Magro. Repetimos o apelo que fizemos há um ano: O número de pequenos desfiles carnavalescos com crianças fantasiadas que se realizaram nesta época carnavalesca, por todo o concelho da Mealhada, justifica que se ponha em cima da mesa a hipótese de voltar a realizar-se o Carnaval da Criança — Carnaval Infantil da Bairrada, que era o seu nome — integrado nos festejos do Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada, nos moldes do que se fazia. Entendemos que poderia ser um ponto a constar no protocolo a celebrar entre a Câmara Municipal da Mealhada e a Associação do Carnaval da Bairrada, para 2011. Trata-se, afinal, do futuro do Carnaval da Mealhada.
Editorial do Jornal da Mealhada de 17 de Fevereiro de 2010