A propósito do processo de escolha de candidatos a deputados pelo círculo de Aveiro
Apesar de o concelho da Mealhada ser, no distrito de Aveiro, o que melhores resultados tem dado ao Partido Socialista, consecutiva e ininterruptamente, durante os últimos vinte anos, pelo menos, não figura na lista de candidatos a deputados pelo círculo de Aveiro o nome de nenhum mealhadense em lugar elegível, nem sequer na lista de efectivos. No último acto eleitoral realizado em Portugal, por exemplo – as eleições para o Parlamento Europeu – o concelho da Mealhada foi o único que deu a vitória ao partido da rosa no distrito.
Apesar de a estrutura concelhia da Mealhada do PSD ser das maiores do distrito de Aveiro, com a quinta posição em termos de número de militantes, e de os seus dirigentes serem pessoas com currículo político e partidário, a verdade é que o candidato indicado pela Mealhada na lista de deputados, João Peres, figura na 13.ª posição. Uma posição que não é elegível e – com todo o respeito – não faz jus nem ao concelho da Mealhada nem ao currículo da personalidade que o ocupa.
Nas listas candidatas ao parlamento nacional pelo círculo de Aveiro não há, em nenhuma delas, qualquer mealhadense a figurar nos primeiros dez lugares.
Se fizermos uma análise histórica, retrospectiva, à representação do concelho no parlamento português desde 1974, vemos que em 35 anos de Democracia sentaram-se em São Bento quatro munícipes do concelho da Mealhada, e todos eles por períodos relativamente curtos. Analisando caso a caso reparamos que a posse de mealhadenses foi feita, em dois dos casos, em substituição de outros deputados e, nos casos restantes, porque os eleitos representavam tendências partidárias internas ou estruturas partidárias que nada tinham a ver com a representação do concelho da Mealhada, como aconteceu, respectivamente, no caso de Rui Marqueiro, que tinha sido candidato a presidente da Federação Distrital de Aveiro do PS, e no caso de Gonçalo Breda Marques, que tinha sido presidente da distrital da JSD de Aveiro.
O que representa, afinal, o concelho da Mealhada para o distrito de Aveiro? Se para as estruturas partidárias distritais não representa nada, e nem sequer é merecedor de investimento eleitoral com a escolha de candidatos dele naturais, também não vai representar alguma coisa quando, depois, os seus dirigentes ocuparem lugares nos órgãos de soberania.
Nestes momentos, torna-se relevante, então, fazer uma pergunta já clássica da história do concelho da Mealhada: Não estaríamos melhor se fizessemos parte no distrito de Coimbra?
Quando o município da Mealhada, por volta de 2003/2004, aderiu à Grande Área Metropolitana de Coimbra – que entretanto foi extinta por decisão governamental – pensou-se que a divisão administrativa do país em distritos fosse uma realidade a extinguir e se renovaria a esperança de uma maior ligação a Coimbra, em detrimento da ligação a Aveiro. Criaram-se expectativas e pensou-se que o problema terminaria com a adopção da melhor solução. Não foi assim. E, a menos que se institua a regionalização do país, não se perspectiva qualquer mudança nesta situação.
Há opiniões diferentes sobre qual seria a melhor opção para o município da Mealhada: pertencer ao distrito de Aveiro ou ao de Coimbra? Do lado dos que defendem a ligação a Coimbra surgem argumentos de uma maior ligação de índole pessoal – afectiva –, social, cultural e económica. Do lado dos que defendem a permanência do estado actual ouve-se o argumento de que, economicamente, é mais favorável ser a Mealhada um concelho menos rico num distrito riquíssimo do que ser um concelho menos pobre num distrito paupérrimo.
Não esquecemos que em 6 de Novembro de 1836, quando foi criado, o concelho da Mealhada foi incorporado no distrito de Coimbra. Só em 25 de Outubro de 1855, por troca com o município de Mira, o concelho da Mealhada passou a fazer parte do distrito de Aveiro. Um erro histórico com 154 anos? Um negócio político que não agradou nem a mealhadenses nem a mirenses, que continuam a preferir a situação inicial?
Os responsáveis políticos – governamentais e partidários – do distrito de Aveiro não têm respeitado o concelho da Mealhada. Se os distritos e os círculos eleitorais distritais são uma realidade para continuar, então alguma coisa tem de mudar.