Um ano depois
A propósito da recuperação das Termas de Luso
Há precisamente um ano, na edição do Jornal da Mealhada de 2 de Abril de 2008, dávamos conta da apresentação pública, ocorrida dois dias antes, do parceiro da Sociedade da Água de Luso (SAL), a Maló Clinic Health Group (MCHG), para a gestão e desenvolvimento das Termas de Luso, concessão que a SAL detém juntamente com a exploração da água.
No editorial a que demos o título “E agora?” enunciámos algumas das convicções que resultaram da nossa análise, pessoal, da conferência de imprensa da referida apresentação pública, na qual intervieram Alberto da Ponte, administrador da SAL, e Paulo Maló, da MCHG. Lembramos, dessa apresentação pública, o compromisso de investimento de três milhões de euros num complexo de SPA médico, que ocuparia cerca de mil e quatrocentos metros quadrados. Assumida foi, ainda, a garantia de que, em Outubro de 2009, seria emitida a primeira factura pela utilização do serviço, que, a partir desse mês, abriria ao público.
«Ficou claro, na intervenção de Paulo Maló, que a MCHG pretende dar notoriedade à vila do Luso e que pretende não perder dinheiro. Maló disse que, para isso, seria preciso ‘transformar as termas numa espécie de shopping da saúde’ — com termalismo clássico, com SPA, com comercialização de produtos cosméticos, serviço de fisioterapia e, acima de tudo, com a prestação de um serviço de check-up médico completo aos utentes. Afirmou, também, que o projecto que pretende realizar está vocacionado especialmente para um mercado de clientes de gama média alta, com poder económico, à procura de qualidade nos cuidados de saúde, no turismo, na hotelaria e na restauração», escrevemos nessa altura no referido editorial.
Agora, um ano depois, reafirmamos outra consideração que evidenciámos na altura: «Entendemos que estamos a viver um momento de viragem nas Termas de Luso e, consequentemente, na economia do Luso e do concelho da Mealhada. Não será fácil aceitar novo falhanço na tão desejada solução da desesperante necessidade de recuperação das Termas de Luso».
Acreditamos que não haverá falhanço, mas os sinais não parecem correr a favor dessa convicção. Bastaria assinalar o compromisso de realização do projecto e de finalização das obras em dezoito meses e ver que já passaram doze, dois terços, e a obra ainda nem sequer começou. Soubemos, no início de Março, que era intenção do consórcio que as obras se iniciassem ainda nesse mês. Nessa mesma altura foi renovado o compromisso de conclusão das obras dentro de seis meses, e realizou-se uma reunião entre o consócio SAL-MCHG e o Movimento dos Comerciantes e Hoteleiros do Luso da qual viria a resultar, dias depois, uma conferência de imprensa do movimento apresentando algumas dúvidas para as quais o consórcio não tinha apresentado, ainda, uma satisfatória resposta.
Pegámos nas questões apresentadas nessa conferência de imprensa e colocámo-las aos responsáveis pelo consórcio. Editamos esta semana, na página 9 deste jornal, as respostas que nos foram enviadas por Alberto da Ponte e Paulo Maló. Deixamos ao Movimento dos Comerciantes e dos Hoteleiros e aos nossos leitores a apreciação dessas mesmas respostas e a avaliação de até que ponto satisfazem as dúvidas. Não estamos avalizados a responder a isso, mas sempre registamos a convicção, o ar de certeza e de garantia, com que o consórcio garante a realização dos projectos tornados públicos.
No editorial de há um ano aplaudimos a criação do Movimento de Comerciantes e Hoteleiros do Luso: «Consideramos que poderá ser um elemento fundamental para que o máximo de pessoas retire o máximo proveito do projecto que agora se anunciou. Acreditamos, firmemente, que só uma estrutura com estas condições poderá dar aos empresários do Luso as informações e a esperança de que necessitam para poderem transformar os seus negócios e aproveitarem a oportunidade».
Um ano depois, como já se disse, muito pouco se viu no avançar do projecto e da obra do SPA termal, a que a SAL-MCHG nega alguma vez ter chamado ‘Mega’. Viu-se, por outro lado, crescer a credibilidade da acção do Movimento que tem servido de guarda avançada na defesa dos interesses da comunidade do Luso com uma legitimidade que, pela força das circunstâncias, se sobrepõe à do poder político. Os porta-vozes desta organização têm-se feito ouvir com inteligência, têm demonstrado com fundamentação, até de números, os seus argumentos. Entendemos, por isso, que se trata de um movimento que tem realizado o seu papel e tem sido interlocutor respeitado pelo consórcio o que poderá constituir estímulo relevante para que o consórcio se esforce por honrar os seus compromissos e não falhar.
Editorial do Jornal da Mealhada de 1 de Abril de 2009