Avaliando a organização do Carnaval da Bairrada de 2009
O Carnaval da Bairrada deste ano de 2009 contou com um sol radioso e com a adesão significativa de milhares de pessoas. Assumimos o papel de promotores da avaliação do trabalho das escolas de samba. É exigível que avaliemos, também, o da organização do cortejo.
O percurso do sambódromo
Já no final do desfile do Carnaval de 2008 tinha ficado comprovado e aceite, pelos organizadores dos festejos e pelos dirigentes das escolas de samba que tomaram parte nos desfiles, que o percurso do sambódromo na zona desportiva da Mealhada era demasiado pequeno para o corso. Apesar disso, e talvez porque este ano desfilava menos uma escola, esse facto foi ignorado e o cortejo voltou a realizar-se naquele espaço. A verdade é que, mesmo assim, as cinco escolas de samba não couberam no percurso e foi preciso tomar medidas de emergência que, em vez de remediar satisfatoriamente a situação, prejudicaram o desfrute do espectáculo àqueles que pagaram para o ver. Na terça-feira a medida tomada para obviar o problema foi mais sensata do que a que fora tomada no Domingo Gordo, dia em que uma escola, a última a desfilar, saiu bastante prejudicada uma vez que teve de esperar que a primeira saísse do recinto para ela poder entrar. Em 2010, seja com seis escolas ou, mesmo, com cinco, é necessário alterar o percurso — alterando a sua localização ou, no caso de isso não ser possível, definindo locais diferentes para a concentração e para a dispersão dos componentes das escolas.
O som e o atraso
Não foram significativos os problemas com o som e com o atraso no início do desfile. Dizemo-lo porque entendemos que, no que respeita à hora de início dos cortejos, se tratou, durante muitos e muitos anos, de um defeito crónico do Carnaval da Mealhada. O problema de som a que assistimos, principalmente no domingo, reside muito mais nas características do recinto do que nos meios utilizados para a sua propagação. Quanto ao atraso, registamos o facto de, na publicidade do Carnaval, não existir referência a horários. O que, apesar de tudo, acaba por ser positivo. O que não faz tanto sentido é o desfile terminar já depois do pôr-do-sol. E quanto a isto parece ser possível melhorar, até porque no desfile de terça-feira o facto já não se repetiu.
Espectadores
Fará sentido, ao fim de trinta e um anos de realização ininterrupta de Carnaval da Mealhada, que, de uma vez por todas, a totalidade dos objectivos da organização se centrem essencialmente no espectador. Com esse propósito deverão ser promovidas medidas que passem pela pontualidade — como já vimos —, por incentivar mais educação no trato por parte das pessoas que, no percurso, são responsáveis pela segurança — recebemos inúmeras queixas em relação ao trabalho de alguns senhores de colete reflector —, e por privilegiar e aumentar a espectacularidade da prestação das escolas em zonas mais nobres do trajecto, especialmente junto das bancadas.
A avaliação das escolas de samba
Está, também, mais que reconhecido que a competição entre as escolas de samba melhora a qualidade do espectáculo. O Carnaval da Bairrada de 2009, com a realização de uma avaliação que não beneficiou da colaboração de quatro das cinco escolas de samba que desfilaram, provou que essa avaliação — chame-se assim, chame-se concurso, ou campeonato — é absolutamente imprescindível para o Carnaval do futuro, sendo insensato voltar atrás neste assunto. Tome-se, portanto, a avaliação por dado adquirido.
O papel das escolas de samba
Com o corso de 2009 encerra-se uma fase, que começou há vários anos, de gradual independência das escolas de samba, como grupos autónomos, relativamente à Associação do Carnaval da Bairrada (ACB). Se, por um lado, este movimento de auto-determinação teve grandes vantagens, a verdade é que, por outro lado, está a desembocar num impasse. Esta independência em relação à ACB fez com que as escolas deixassem de estar tão presentes na cúpula organizativa do corso carnavalesco. Fomos nós próprios — no âmbito do processo de avaliação das escolas de samba para cuja realização a ACB solicitou a colaboração do Jornal da Mealhada —, testemunhas do afastamento, do divórcio, até, que, neste momento, existe entre as escolas e entre estas e a direcção da ACB. E isto não deve continuar. As escolas de samba precisam de compreender que têm vantagens em se unir e que, institucionalmente, têm obrigações perante o próprio Carnaval, entendendo que não lhes cabe o papel de meros fornecedores, ou clientes, da realização dos cortejos.
Notas finais
Temos para nós que ou o modelo de organização do Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada muda ou a própria realização do corso carnavalesco acaba por ter os dias contados. O Carnaval da Bairrada atingiu tal dimensão que precisa de tornar mais profissionais algumas das componentes da sua organização. Ao falarmos de profissionalismo falamos de maior cuidado, de planificação, de pensamento metódico e estratégico. Esta organização precisa de crescer e precisa de saber para onde, e em que aspectos é mais necessário, mais prioritário, o dispêndio de energias.
Finalmente, cabe-nos concluir com o lamento de neste desfile não termos descortinado qualquer homenagem ao Macaca — António Oliveira, recentemente falecido. O ano de 2009 é o do trigésimo aniversário do Carnaval da Criança, festa infantil que, durante duas décadas se realizou no Domingo Magro. Também não notámos referência a isso. O número destes pequenos desfiles carnavalescos com crianças fantasiadas que se realizaram nestes últimos dias, por todo o concelho da Mealhada, justifica que se encare seriamente a hipótese de voltar a realizar-se o Carnaval da Criança — Carnaval Infantil da Bairrada, que era o seu nome — integrado nos festejos do Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada, nos moldes do que se realizava. Entendemos que poderia ser um ponto a constar no protocolo a celebrar entre a Câmara Municipal da Mealhada e a Associação do Carnaval da Bairrada, para 2010. Trata-se, afinal, do futuro do carnaval da Mealhada.
Editorial do Jornal da Mealhada de 25.02.09