…o massacre de Batepá faz 56 anos
A primeira vez que ouvi falar de conflitos ‘coloniais’ entre o Estado Português e a colónia ultramarina de São Tomé e Principe foi no centro da cidade de São Tomé, na Praça da Independência.Os são-tomenses, como os cabo-verdianos, não criaram movimentos nacionalistas de libertação que optassem pelo conflito armado com Portugal. A questão do uso de mão-de-obra escrava em São Tomé é antiga – tema central do Equador – mas nunca pensei que daí tivesse surgido algum confronto directo.Aconteceu. E só fiquei a saber do que aconteceu realmente quando estava em Batepá, numa hiace, a caminho da Roça Monte Café. Parámos num monumento que evoca o que ficou conhecido como o massacre de Batepá.A explicação parece ser simples. O governador da Colónia ficou convencido de que estava a proceder-se à organização de uma conspiração, nas roças, entre os nativos, que punha em causa a sua própria vida e a soberania portuguesa e decidiu antecipar-se e reprimir. Reprimiu tanto que causou uma chacina completa. Torturas, mortes… coisas abomináveis para a raça humana.O episódio não é conhecido na história portuguesa, nem na temática colonial especifica. Mas é vergonhosa.O próprio Governador não terá sobrevivido politicamente e foi substituído.Ainda hoje há feridas do massacre de BatepáDo que pesquisei, hoje, sobre o assunto resultou:
– a existência de um livro de Sum Marky, “Crónica de uma guerra inventada”, que narra estes acontecimentos; – a descoberta do poema “Onde estão os homens caçados neste vento de loucura”, de Alda Espírito Santo, que fala d’
«O sangue caindo em gotas na terra
homens morrendo no mato
e o sangue caindo, caindo…
Fernão Dias para sempre na história
da Ilha Verde, rubra de sangue,
dos homens tombados
na arena imensa do cais.»