O Primeiro-Ministro foi à televisão. Eis uma boa razão para parar o que estava a fazer – até porque estava a escrever sobre o discurso de Cavaco na mensagem de Ano Novo – e ir ouvir o presidente do conselho… de ministros.
No final, fiquei mais angustiado do que quando o debate (será esse o nome apropriado, mais do que entrevista) começou.
E fiquei logo angustiado porque o primeiro-ministro fez asneira quando falou do estatuto dos Açores. Foi disparate e custa-me ver as pessoas a dizer disparates.
Angustiado porque a autoridade do Chefe do Governo saiu daquele estudio pelas ruas da amargura. Ricardo Costa, reputado jornalista – da SIC e agora do Expresso – portou-se muitissimo mal. Deu ali duas ou três lições de jornalismo de trazer por casa. E angustia-me ver boas pessoas a fazer disparates.
Ricardo Costa tratou o entrevistado como se este estivesse num estado de inferioridade intelectual. Gabarolou-se de conhecer melhor os dossiês e a Constituição do que Socrates. Dirigiu-se a ele como se fosse um colega da sueca do café e estivesse a discutir o espalho do Quique. Deu a sua opinião variadissimas vezes, chegando mesmo ao rídiculo de afirmar: “Aposto que o Tribunal Constitucional vai chumbar o estatuto!”. Aposta? O entrevistador aposta? O que é isto?
Ricardo Costa fez perguntas despropositadas numa entrevista em directo: “Já perguntou a Alegre se ele vai fundar um partido novo?”… É fácil imaginar o telefonema: “Está Alegre, olha, vais-me espetar uma faca nas costas? Ah sim, obrigadinho. Até amanhã!”
Apreciei o resto da prestação de Socrates, percebi o desnorte do José Gomes Ferreira, perante as atoardas do Ricardo Costa. E acima de tudo cheguei à conclusão de que estamos fornicados. O primeiro-ministro tem o discurso ensaiado, não precisa sequer das cábulas que o Ricardo Costa tinha no teleponto, sabia a mensagem que tinha para dizer… mas não faz ideia do que é preciso fazer para nos tirar desta maldita crise!