É oficial, começou a Guerra das Rosas!
A Guerra que, tal como a dos Lancasters e Yorks, em Inglaterra, há 650 anos, opõem duas facções na vontade em controlar o Conselho Real e o trono – a família dos Cabralistas, com Carlos Cabral como pretendente, e a família dos Marqueiristas, sendo Rui Marqueiro o pretendente. Não se trata do trono do reino, mas o trono que é a cadeira de presidente da Câmara Municipal da Mealhada.
A guerra é travada não só no seio do Partido Socialista, mas também nesse seio.
Uma guerra que estava latente há muitos meses, mas que ontem, na reunião da Assembleia Municipal da Mealhada se tornou evidente, clara, oficial. Esta clarificação chegou mesmo a traduzir-se numa votação que deixa ambas as famílias contentes e ambas as famílias frustradas.
Mas vamos aos factos:
Discutia-se ontem, na reunião da Assembleia Municipal da Mealhada, para além de outros assuntos, a aprovação de um mapa de pessoal dos funcionários da Câmara. Mapa de pessoal que o presidente da Câmara, Carlos Cabral, disse ser obrigatório – face a uma nova lei – e urgente, quando há 127 novos funcionários vindos do Ministério de Educação que carecem de ‘arrumação’.
Miguel Felgueiras, duque da família Marqueirista, acusou o camarada de partido e presidente da Câmara de falta de ética, ao querer mudar o mapa de pessoal a oito meses das eleições, dizendo ainda que considerava absurdo a criação de dois departamentos e uma nova divisão na estrutura orgânica municipal. Invocou ainda uma lei de 1984 que estabeleceria que não poderia haver lugar a alterações do mapa de pessoal sem uma aprovação, em assembleia municipal, de uma alteração do organograma municipal. Rui Marqueiro não abriu a boca em toda a discussão, escusando-se até a gerir os pedidos de palavra.
Cabral socorreu-se da jurista da corte, pelo que se percebeu a autora do mapa, que declarou a Felgueiras que a lei que invocava estava revogada. Felgueiras não aceitou a opinião da jurista e lamentou ter sido interpelado por uma serviçal…
Cabral perguntou então, em forma retórica, se Felgueiras entendia haver necessidade de instrumentalização partidária nas admissões por concurso público – uma vez que tinha dito considerar que novo presidente em novo mandato não deveria ter que levar com funcionários recém admitidos.
Dá-se então a machadada final, a declaração de guerra, a bofetada que espoleta o barril da pólvora: Felgueiras apresenta proposta, em nome do Partido Socialista, em papel timbrado, em que propõe a aprovação de um outro mapa de pessoal sem a criação dos dois departamentos e da nova divisão.
Cabral diz lamentar que os camaradas de partido não o tenham informado da proposta e das divergências de opinião na reunião preparatória tida na véspera e Felgueiras responde que a assembleia era o lugar certo para o fazer. Estava dado o passo fatal, o caminho sem retorno.
O PSD assistia à discussão com serenidade. Quando percebeu que o assunto ia a votação e que teria de optar por Marqueiristas ou Cabralistas, pediu a suspensão da reunião para parlamentar. A discussão não deve ter sido fácil porque demorou.
Marqueiro, no topo da sala, estava nervoso. Cabral estava tenso.
A reunião recomeçou, foram dados esclarecimentos e foi a votos. Era a hora da verdade!
– Quem vota contra a proposta do Partido Socialista Marqueirista?
Nove pessoas: Augusto Oliveira e António Breda (CDU, fidelíssimos), Tony Luís, Vitor Gomes e os representantes das juntas do Luso, Barcouço, Pampilhosa, Vacariça e Casal Comba (todos socialistas cabralistas).

– Quem se abstém da proposta do Partido Socialista Marqueirista?
Duas pessoas: Álvaro Madeira e o presidente da Junta da Antes (ambos do PS)

– Quem vota a favor da proposta do Partido Socialista Marqueirista?
Dezasseis pessoas: (Foto é prova) 8 do PSD – Mano Soares, António Ferreira, Luís Brandão, Filipa Pereira, Pedro Duarte, Pedro Paiva e os presidentes das juntas da Mealhada e Ventosa; 8 do PS-M – Rui Marqueiro, Manuel Paredes, Miguel Felgueiras, Júlio Penetra, António Ribeiro e Lurdes Bastos.

Ficaram ambas as famílias contentes? Sim. Os Marqueiristas porque ganharam a primeira batalha. Os Cabralistas porque mostraram que há divisão, que os barões (presidentes de junta) estão com eles e isso é importante porque cada um deles também tem exército.Ficaram ambas as famílias frustradas? Sim. Os Marqueiristas porque precisaram da muleta do PSD para ganhar, uma vez que falharam votos como o da Junta da Antes… Os cabralistas porque perderam a primeira batalha com ferimentos graves… nas costas!Os franceses, que é como quem diz os do PSD é que, * ofuscados com o sangue da guerra, se esqueceram de fazer politica e reivindicar os despojos. Foi oportunidade falhada que pode não voltar a repetir-se.A Primeira Batalha de St. Albans está feita. Ganharam os de York, os Marqueiristas. A segunda batalha é a de Blore Heath reza a história que ganhariam aí os de Lancaster… a ver vamos!