Memória das Minhas Putas Tristes
Reside um exemplar encartonado, grosso, do livro de Gabriel Garcia Marques, Memória das Minhas Putas Tristes, na estante da biblioteca da casa do Nuno. Sempre que lá vou e me permito admirar a biblioteca, há sempre dois volumes que se projectam para as minhas mãos. Um volume antigo do Portugal e o Futuro, de António de Spínola, e ele, o Memória das Minhas Putas Tristes. Devo-lhe ter lido a primeira página uma centena de vezes.Ontem sábado, depois de uma tampa para o almoço, dei por mim no templo. Na FNAC de Coimbra, entenda-se. Num escaparate escondida encontrei a colecção Booket, de livros de bolso. Na semana anterior, na Almedina do Estádio, já tinha comprado o Sonhador, de Ian McEwan, dessa mesma colecção, mas ainda não tinha tido noção da qualidade, da variedade e da diferença de preços desses livros. Uma maravilha.No escaparate, o Memória das Minhas Putas Tristes olhava para mim e mostrou que me desejava, insinuou-se, disse-me que me queria. E eu, que nunca resisto aos desafios, aceitei e trouxe-o. Não fui fiel, admito. Na minha mão, a pedir para vir também, mas sem o bolero de Garcia Marques, ainda estiveram um livro de José Mattoso da colecção Essencial e um o Aprender a Rezar Na Era da Técnica, de Gonçalo M. Tavares. Mas a esses resisti. Não me sussurraram ao ouvido.Num fim-de-semana cheio de coisas para fazer, lazer e labor, li o livro num suspiro. E deliciei-me.A história é simples mas muito bonita. Conta a história de um velho libertino, solteirão e depravado que decidiu, na noite do seu nonagésimo aniversário, desflorar uma virgem. Este homem, cujo nome não se conhece, mas que é chamado de sábio, nunca chega a fornicar a moça de catorze anos que Rosa Cabarcas lhe arranja, mas apaixona-se. E é tão lindo o amor.Aos cinquenta anos, quando a lista alcançava os quinhentos e muitos nomes, Dom Sábio, deixa de escrever a Memórias das Minhas Putas Tristes, uma lista onde apontava o nome das mulheres que fornicara. Agora com noventa anos, apaixona-se, finalmente.Tanto Prazer por seis euros e vinte e seis cêntimos.
Mais barato que ir à Cova da Areia. Acho eu.
(um texto que li com imenso prazer. Muito honestamente)