“PARAÍSO”
Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota…
Crepite, em derredor, o mar de Agosto…
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir.
Só te aconselho que acendas,
para tudo ser perfeito, à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito…
Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
de David Mourão-Ferreira