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A força do espírito 3.
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Com a tomada de posse do padre Carlos Godinho da paróquia da Pampilhosa restabelece-se uma espécie de ordem natural das coisas na assistência pastoral das paróquias do concelho da Mealhada. Deixou de haver padres a desempenhar funções paroquiais interinamente e cada paróquia passou a ter o seu padre, sem prejuízo de ele poder pertencer também a outra. Oito meses depois do desaparecimento repentino, em menos de um mês, de dois sacerdotes, padre Abílio Simões e padre Virgílio Gomes, os crentes católicos voltam a ter a estabilidade religiosa a que estavam habituados. Pode discordar-se da decisão do bispo de Coimbra na distribuição dos sacerdotes. Pode discutir-se o critério que terá tido para retirar um padre de uma paróquia e colocá-lo numa paróquia ao lado, com a mesma dimensão. Mas, acima de tudo, está vencido o período de reflexão, do sentir a falta que um padre faz numa comunidade, mesmo para os não-crentes.
Durante estes oito meses muitos foram os diálogos que se desenrolaram a propósito daquilo que é um problema da Igreja Católica portuguesa, e, também dos portugueses: a falta de padres. Para muitos, o problema resolver-se-ia com a possibilidade de os sacerdotes contraírem matrimónio. Para outros, é a própria fé que está em crise e só uma alteração profunda dos dogmas da Igreja poderia alterar isso mesmo. Tempo houve na história nacional em que o Estado perseguia os padres e o número de sacerdotes diminuiu muitíssimo. A um tempo de crise sucedeu, sempre, um tempo de fartura e assim sucessivamente.
Não haverá, apesar disso, a necessidade de uma reestruturação fundamental naquilo que, para uma comunidade, são os serviços de assistência espiritual? Uma reestruturação geográfica, com um novo mapa das paróquias, não serviria melhor os interesses da comunidade? Com paróquias agrupadas, sob a orientação de equipas de sacerdotes, não poderiam ser prestados melhores cuidados espirituais? E maior envolvimento de leigos, de pessoas não ordenadas, em tarefas de voluntariado na área da assistência espiritual, em tarefas de natureza puramente administrativo-religiosa, libertando os padres para o culto, para o contacto social? Estas seriam pistas que a Igreja, os presbíteros diocesanos, bem poderiam analisar, e sugerir, mas são medidas de tal modo transformadoras que só o apoio das comunidades, das populações — com crentes e não-crentes — as poderão fazer vingar.
Durante estes oito meses muitos foram os diálogos que se desenrolaram a propósito daquilo que é um problema da Igreja Católica portuguesa, e, também dos portugueses: a falta de padres. Para muitos, o problema resolver-se-ia com a possibilidade de os sacerdotes contraírem matrimónio. Para outros, é a própria fé que está em crise e só uma alteração profunda dos dogmas da Igreja poderia alterar isso mesmo. Tempo houve na história nacional em que o Estado perseguia os padres e o número de sacerdotes diminuiu muitíssimo. A um tempo de crise sucedeu, sempre, um tempo de fartura e assim sucessivamente.
Não haverá, apesar disso, a necessidade de uma reestruturação fundamental naquilo que, para uma comunidade, são os serviços de assistência espiritual? Uma reestruturação geográfica, com um novo mapa das paróquias, não serviria melhor os interesses da comunidade? Com paróquias agrupadas, sob a orientação de equipas de sacerdotes, não poderiam ser prestados melhores cuidados espirituais? E maior envolvimento de leigos, de pessoas não ordenadas, em tarefas de voluntariado na área da assistência espiritual, em tarefas de natureza puramente administrativo-religiosa, libertando os padres para o culto, para o contacto social? Estas seriam pistas que a Igreja, os presbíteros diocesanos, bem poderiam analisar, e sugerir, mas são medidas de tal modo transformadoras que só o apoio das comunidades, das populações — com crentes e não-crentes — as poderão fazer vingar.
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in Editorial do Jornal da Mealhada
Ou falta de padres, ou falta de capacidade de discernimento e coragem da igreja hierárquica para ler os sinais dos tempos e fazer santas reformas na forma de encarar a paroquialidade e a “sarcerdotalidade”. Ou falta de desacomodação dos leigos que preferem continuar a precisar do padre, mesmo para aquilo que é da sua inteira responsabilidade e missão, dada pelo baptismo. Tanta falta e ainda mais a falta de co-resposabilidade prática…
parabéns e abraço