[236.]TRIBUTO A UMA AMIZADE
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Numa das revistas SÁBADO, de meados de Julho, saiu no suplemento ‘Primeira Escolha’, na secção de moda, um texto sobre a ICONE, uma empresa familiar que produz acessórios e t-shirts com mensagem em edições exclusivas. Ao folhear a revista comecei por reconhecer a Neuza Campos e o Luís, o irmão, e, admito, só depois li o texto.
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A Neuza é de Queluz mas estudou na Mealhada. Em 1994 veio morar para a Malaposta, Anadia, e matriculou-se na turma de Artes da Escola Secundária da Mealhada. Foi a primeira turma de Artes da Escola. Era (fomos) um conjunto de alunos que se mobilizou para ter, na sua escola, a oferta curricular que pretendia. Orgulho-me de dizer que fiz parte desse grupo. Com a mesma intensidade tenho o lamento de hoje, e já há vários anos, ter deixado de haver cursos de Artes na (minha) Escola Secundária da Mealhada.

A Neuza, afinal é sobre ela que quero escrever, era uma rapariga da cidade que, de repente, se viu na parvónia (na Leitónia – já há quem diga – ) mais ou menos desenraizada. Com o tempo as coisas foram mudando e o cosmopolitanismo da Neuza acabou por nos contagiar. Os alunos de Artes, nós, começámos a ter a mania que éramos vanguardistas e a verdade é que foi a Neuza quem nos fez dar esse passo. Lembro-me que o primeiro acto de rebeldia dela foi passar a usar a roupa ao contrário. Ou seja usar uma t-shirt por cima de uma camisa de manga comprida, por exemplo. Aos poucos ela passou a ser a nossa líder estética.

Ela sempre foi uma rapariga muito lutadora e sensível. E era essa sensibilidade que a tornava, de modo contrastante, tão esmagadoramente cruel na ironia, no rasgo de distanciamento entre dois mundos, o nosso, o da Leitónia, e o dela, o da cidade grande. Uma força interior aliada a um forte sentido de justiça, de lutar pelo que é certo e banir o errado. É portanto com naturalidade que vejo que a Neuza e o irmão, com quem tive menos contacto, empreenderam sozinhos numa empresa sua, a fazer arte de arrojo, com mensagem e sensibilidade. É a imagem deles. E eu, à distância, encho-me de orgulho neles e por eles.

Terminámos o curso, o décimo segundo ano, há precisamente dez anos. Éramos uma turma pequenina e, talvez por isso, lembro-me que nos organizámos, dividimos as disciplinas e cada um elaborou apontamentos e elementos de estudo para toda a turma. Uns tiveram sucesso, outros nem por isso. Poucos seguiram as Artes. Mas a verdade é que foi um tempo de saudável rebeldia.

Correndo o risco de me esquecer de alguém deixo aqui testemunho dessa malta que, apesar de ter sido sempre avesso a jantaradas de saudosismos, gostava de reencontrar. Ora cá vai uma lista: Cláudio e o Rui Dinis (de Arinhos), o Bruno (da Silvã), a Celeste e a Sónia (do Travasso), a Sónia Godinho e o Miguel Ângelo Cruz (da Antes), a Inês Seabra (do Luso), eu e o Rodrigo Jorge (de Sernadelo). Ter-me-ei esquecido de alguém?

A dimensão artística na formação integral do Homem é algo fundamental e indispensável. É com terror que vejo que isso se está a perder e que a Escola tendo todas as condições deixou de ministrar essa oferta educativa. Todos perdemos com isso. Dessa primeira turma resta, pela memória, um conjunto de quadros, sobre a Arte, expostos na Biblioteca da Escola Secundária da Mealhada.

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PS> Aqui dá para ler o conteúdo do texto da imagem…