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Ontem omiti, deliberadamente, a evocação da data 21 de Agosto de 1968. Passei tantos anos na faculdade a chatear dos meus amigos do PCP com a efeméride que agora deixei-me disso! Só que não consigo resistir à pergunta:
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É isto o comunismo de rosto humano?
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“O presidente venezuelano, Hugo Chávez, foi acusado nesta segunda-feira por um jornal de Lima de fazer política com a tragédia do terramoto no Peru, ao doar latas de atum com sua foto e a do líder opositor peruano Ollanta Humala”, escreve a France Press que acrescenta que a embaixada venezuelana desmentiu a informação, e concluiu “Segundo a denúncia, os alimentos distribuídos aos desabrigados nos devastados bairros populares de Pisco e Chincha possuem o rótulo com a inscrição ‘Diante dos saques, desespero e caos, solidariedade para com os nossos compatriotas'”.
A Primavera de Praga foi também um manifesto comunista, lembrando-lhe que o comunismo é um ideal e não se resume a uma prática.
Quanto ao resto do post, apesar de não o suportar, é menos pernicioso do que os EUA fizeram com a entrega por avião de comida no início da guerra com o Afeganistão, em 2002, acto repudiado não por anti-americanos, mas pelas próprias ong’s; nem menos cruel do que, também nos EUA, aconteceu com a não ajuda ao milhares de pessoas desalojadas devido às cheias em New Orleans. A memória deve ser a bengala da verdade, caro Canilho. Se um legitima o outro:não. Se os EUA são uma ditadura: não. Se têm a mesma desumanidade e vontade de poder: sim.
Carissima Lua,
A tentação do debate dialéctico é desproporcionada. Analisamos, tão só, a atitude de Chavez que manda imprimir a sua cara na ajuda humanitária que presta. A atitude é discutível no ponto de vista da moral. Mas pior é que, sendo chefe de estado – e pelo vistos a título vitalício – de um país amigo, Chavez manda colocar nessas latinhas de atum a sua cara mas também a do líder da oposição, seu correligionário…
Que diriamos se Berlusconi, prestando ajuda humanitária a Portugal (longe vá o agoiro), colocasse nas latinhas de atum o seu esbelto frontespício e a cara de Paulo Sacadura Portas? Aplaudiríamos?
Quanto aos Estados Unidos da América não são para mim modelo nem de democracia, nem de direitos humanos, nem de coisa nenhuma. Não me ouvirá a mim, como ouve a Mário Soares, por exemplo, dizer ora bem ora mal da América de quem já foi aliado, nem tão pouco elogiar Chavez como paladino da democracia popular e populista. O muro caiu e já não há só dois blocos.
O mundo está hoje cheio de tons cinzentos.
A realidade obriga a navegar à vista.
Tudo reflecte o que queremos que reflicta e o que hoje é sonho amanhã é pesadelo e vice versa.
Até o degelo do Artico que trará consigo dos maiores males que o mundo já conheceu, acaba de ser reconhecido como oportunidade de negócio: o Artico esconde petroleo, gás e novas rotas de desnvolvimento.
Vivem-se tempos muitissimo estranhos!
Caro Canilho,
concordamos em alguns pontos. No entanto, desde o momento em que o senhor sob a pergunta “é este o rosto humano do comunismo” fala, e cito-o a partir do seu comentário, “tão só [d]a atitude de Chavez”, abriu a chance de toda e qualquer desproporção: e é neste sentido que lhe dei o exemplo dos EUA, para lhe dizer que isto nada tem que ver com o comunismo, mas com vontade de poder, seja qual for o quadrante político: são os seres humanos que fazem merda, não são as ideologias (tirando as que, em si, pretendem a ditadura, obviamente).
Tomando a sua última frase do seu comentário como uma (má) provocação, e concluindo este meu ponto de vista, parece-me que é o senhor, e não eu, quem ainda vive na dicotomia dos dois blocos.