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A indiferença
«Primeiro levaram os negros. Mas não me importei com isso. Eu não era negro.
Levaram os comunistas. Mas eu não me importei. Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários. Mas a mim não me afectou. Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas. Mas eu não me incomodei. Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez de alguns padres, mas como nunca fui religioso, também não liguei.
Depois prenderam os miseráveis. Mas não me importei com isso. Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados, mas como tenho meu emprego Também não me importei.
Agora estão levar-me, mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo. »
Em seguida levaram alguns operários. Mas a mim não me afectou. Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas. Mas eu não me incomodei. Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez de alguns padres, mas como nunca fui religioso, também não liguei.
Depois prenderam os miseráveis. Mas não me importei com isso. Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados, mas como tenho meu emprego Também não me importei.
Agora estão levar-me, mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo. »
Bertolt Brecht (1898 – 1956)
“Verfremdungseffekt” no original alemão do conceito de distanciamento e alheamento do teatro épico de Brecht que transposto para este texto podia igualmente significar que muitas vezes a nossa indiferença e falta de reacção aos actos mais pulhas, levam aos maiores crimes da humanidade.
Antes do início da II Guerra já Churchill advertia para os perigos da Alemanha Hitleriana. Ao invés de ouvirem este prenúncio, as nações aliadas preferiram a indiferença. O resultado viu-se em 1945 – mais de 100 milhões de mortos…
Ave Caesar
Em 1998 visitei os campos de concentração de Auchswitz e Bikernau, simbolos maiores da capacidade que o ser humano tem em causar sofrimento. Muita gente, ainda hoje, vira a cara a estes acontecimentos, negando-os.
Todos nós deviamos visitar este género de monumentos principalmente esta geração mais nova ( 14 anos) que cada vez mais se isola no seu “mundo electrónico”, indiferente ao que se passa à sua volta. Que esta parte da história não se repita. Que todos nós sejamos activos e críticos ao que nos rodeia. De que vale a pena ter um bom cargo, ser inteligente se não colocarmos isso ao seviço de um bem comum?
Nunca visitei os campos de concentração de Auchswitz e Bikernau (não por não querer, mas porque não pude). Nunca li Brecht de fio a pavio (porque sempre tive muito mais coisas para fazer), mas concordo em absoluto com o sentido do texto.
Apenas uma observação: este palavreado dos anos 70/80 parece-me pueril e patético. Estamos em 2007, senhores! Têm medo de quê? Do fantasma de Hitler e quejandos? Não vêem que a verdadeira ameaça actual é a destruição do ambiente? Não seria melhor começarmos a pensar na nossa sobrevivência, ameaçados como estamos não por fantasmas, mas pela degradação da Natureza? Como é possível que nesta aldeia global, em pleno reinado da NET, onde tudo se sabe, em todo o mundo, no segundo seguinte, ainda tanta gente esteja cristalizada nos medos que nos atormentavam ANTIGAMENTE?