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Só ontem é que consegui ir ver a peça “Quem matou Romeu e Julieta?” que esteve no Messias de 24.04 até hoje. A peça é muito interessante. É uma abordagem inteligente e descontraída do clássico de Shakespeare.
Fiquei, no entanto, com a sensação que a Carbunária, a malta que está sempre a criticar, nem sequer lá pôs as patinhas…
Já conhecia a peça mas nunca tinha reparado na qualidade da primeira fala do Frei Lourenço, o frade que dá esperança ao casal impossível…

«FREI LOURENÇO — Ri para a noite escura a manhã bela e de riscas as nuvens acairela; como um bêbado, foge cambaleante a escuridão, na estrada do levante, deixando atrás o carro do Titã. Antes, porém, que o sol venha a manhã tornar alegre, com seu olho ardente e o orvalho desmanchar da flor pendente, encher vou de sementes perigosas meu paneiro e de flores venenosas. A terra é a mãe e a tumba da natura; ministra a morte e, assim, apresta a cura. Filhos de vária espécie, no seu seio a mamar encontramos, sem receio; uns, por várias virtudes, excelentes; cada um com a sua, todos diferentes. Oh! é admirável a potente graça que há nas ervas, na flor, na pedra crassa, pois até mesmo o que há de vil na terra algo de bom, influência dela, encerra; nem nada bom existe, que, torcido do uso normal, não se revele infido à própria natureza e nascimento. Até mesmo a alta virtude, num momento, mal aplicada, em vício se transforma, e este, por vezes, ao dever dá a norma. Na corola infantil desta florzinha veneno mora que dá morte asinha. Cheirado, ao corpo todo dá alegria; mas pára o coração no mesmo dia, quando dado a beber. Dois reis potentes nas plantas e nos homens oponentes acampamento têm: a atroz cobiça e a graça benfazeja. Se insubmissa se mostra a pior, então vem logo o verme da morte e rói essa plantinha inerme