Será que o povo está afónico ou perdeu o sentido do olfacto?
Este jornal (Jornal da Mealhada) sempre encarou o problema dos maus cheiros na área do município da Mealhada com uma postura activa e com grande sentido de responsabilidade. Os protestos e o desespero dos habitantes do concelho sempre tiveram eco nas nossas páginas e, através delas, chegaram, porque disso fazemos questão, aos responsáveis do Estado.
A nossa diligência em recolher a opinião dos dirigentes da administração central sobre os maus cheiros na Lameira de Santa Eufémia chegou, até, a ser olhada como denúncia quando era, apenas, um pedido de comentário à notícia da denúncia de um vereador municipal da Mealhada. Não sabemos se o vereador alguma vez obteve resposta à sua carta mas nós, Jornal da Mealhada, tivemos.
Em determinada altura tirámos fotografias de uma lagoa de dejectos, próximo da Antes, que, aos olhos dos responsáveis da Inspecção-geral do Ambiente, nunca existiu. Como nunca existiu o estudo premiado pela Fundação Ilídio Pinho sobre a qualidade da água das nossas ribeiras, feito pelos alunos da Escola Secundária da Mealhada e que mostrava, claramente, o que corre debaixo das nossas pontes. A ausência de qualquer resposta, ou tomada de atitude, obriga-nos a pensar desse modo.
Apesar das ameaças e apesar do incómodo que causa estar sempre a dizer a mesma coisa, nunca vacilámos e temos sido testemunhas da ligeireza com que as queixas de atentados ambientais são tratadas por quem deles nos deveria defender. Os nossos pedidos de esclarecimento, as nossas perguntas concretas, sobre estes assuntos demoram meses a ter resposta e, muitas vezes, na volta do correio só vem a informação de que foi tomado conhecimento. Não temos dúvidas de que, se a um jornal não é dada resposta, muito menos será dada ao cidadão anónimo, ainda que seja uma vítima.
Não se esgota o debate sobre se a Câmara Municipal da Mealhada esgotou as possibilidades que, legalmente, tem ao seu dispor para travar os problemas dos maus cheiros. Como também não se esgotam os argumentos da empresa poluidora — comprovadamente poluidora — de que tem relevância económica, de que gera emprego, de que é uma actividade importante no concelho e para o concelho.
Entendemos que deveria estar ultrapassada a fase em que a população, de um modo geral, permite que, directa ou indirectamente, lhe estejam a estragar a vida, assiste ao esgrimir de argumentos, à apresentação de desculpas de parte a parte e à promessa de solução do problema até Junho, ou Julho, como já foi dito em 2004, 2005 e 2006. E foi dito, de igual modo, já, em 2007. Não estará na hora de a população dizer o que pensa?
Em datas relativamente recentes, no concelho da Mealhada, só se promoveram vigílias de protesto em Setembro de 1999, a propósito do processo de auto-determinação de Timor Leste, e, depois de o Serviço de Atendimento Permanente do Centro de Saúde da Mealhada ter sido encerrado. A população não é muito dada a manifestações de cidadania e, por isso, porque ninguém quer ficar com o ónus de ter organizado uma iniciativa fracassada, ninguém assume o direito à indignação. Temos o direito à indignação, todos concordam. Mas não teremos, também, o dever da indignação?
Não pretendemos promover bloqueios à fábrica nem ruidosos protestos mas acreditamos que aos prevaricadores assiste o direito de pensar que só uma minoria se preocupa com o envenenamento do ar, da terra e da água e que, por essa razão, não será necessário preocuparem-se com o assunto. Com tanta imaginação para tanta coisa não haverá quem se lembre de colocar umas bandeiras pretas, ou verdes ou amarelas, nas janelas? Quem promova o envio massivo de cartas de protesto para os serviços do Estado? Quem, de forma imaginativa, porque afinal somos um concelho de turismo, nos sugira uma maneira de todos mostrarmos que cheiramos mal, não porque queiramos, mas porque não nos salvam dos maus cheiros? Será que o povo está afónico ou perdeu o sentido do olfacto?
Fantástico editorial, com a qualidade que se espera do autor. Parabéns!
Em relação ao estudo realizado pelos alunos da ESM, sei que a técnica que analisou a água de uma ribeira proxima da fábrica, ficou estupefacta com a péssima qualidade da água.
Acrescento, também, que, apesar de actualmente não o poder afirmar, até há bem pouco tempo a fábrica era uma bomba-relógio, devido à falta de segurança na manutenção da benzina, um produto altamente inflamável e existente em grande quantidade.
Quanto ao cheiro, já está tudo dito: basta sentir. No entanto, este cheiro nauseabundo sempre existiu e só tem sido mais constante porque a produção aumentou. A questão é de saber se o cheiro é sintoma de poluição; mas, isto não serve como justificação para a continuidade da situação: a verdade, com poluição ou não (e eu creio que sim), diminui a nossa qualidade de vida e interfere no bem comum.
Apesar de pensar que a CMM ainda não fez tudo como apregoa porque, sim, a CMM pode fazer mais – é essa a sua função, é a si que a fábrica, antes de mais, tem de prestar contas de exploração – sei que se prepara um abaixo-assinado para tentar fazer frente a esta situação. Aliás, por causa de um hotel devoluto no Luso ( O Serra) o Presidente da CMM não se coibiu de vir para a imprensa nacional denunciar o problema de saúde pública e trurística que aquilo representava (numa história que é tecida por muitos outros fios), mas neste caso resigna-se. Não sei, sequer, se quero compreender porquê.
Simples e directo, sem grandes rodeios se escreve mais um belo editorial (parabéns Nuno).
Infelizmente mais uma vez se prova que o Luso neste momento é um filho manco da câmara municipal.
Mas mais gritante é a passividade da junta de freguesia e ainda mais da chamada junta de turismo Luso-Bussaco.
Caro tribuno,
As saudações que lhe dirijo, também as estendo ao Jornal da Mealhada e ao Amo-te Luso.
Aos curiosos – http://amilhadecaligula.blogspot.com/
Ave Caesar