Quarta-feira Santa
As leituras dos evangelhos escolhidas para este ano litúrgico são especialmente severas para com Judas. Uma vez mais, no evangelho de quarta-feira voltamos a acompanhar Judas no caminho da traição. Voltamos a ter o mesmo cenário da leitura de ontem. Mas se ontem Jesus estava a comer a Páscoa e dizia que um havia de o trair e dizia a Judas “faz o que tem de ser feito”. Hoje Judas trai e depois é que vai ter com Jesus e os discipulos para comer a Páscoa.
Acaba por ser uma contradição entre evangelistas. Afinal Judas “traiu” Jesus mediante uma ordem sua? Ou Judas traiu-o por sua auto-recriação?
A resposta a estas perguntas, ou a própria existência de duas perguntas faz-nos perceber que o essencial está longe do papel de Judas nesta situação. E se um dos discipulos não entregasse Jesus? A morte de Jesus era o fundamental do plano de salvação de Deus. Alguém tinha de o fazer. Uma vez mais me parece que a essência especial de Jesus não está na sua divindade, enquanto filho de Deus e Deus-com-Ele, mas sim na sua humanidade, no facto de sendo um homem ter conseguido alcançar a santidade e a transcendência. Mas a isso voltarei amanhã, dia em que começa o tríduo pascal.
Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Entäo um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes, e disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E eles lhe pesaram trinta moedas de prata, e desde entäo buscava oportunidade para o entregar. E, no primeiro dia da festa dos pães ázimos, chegaram os discípulos junto de Jesus, dizendo: Onde queres que façamos os preparativos para comeres a páscoa? E ele disse: Ide à cidade, a um certo homem, e dizei-lhe: O Mestre diz: O meu tempo está próximo; em tua casa celebrarei a páscoa com os meus discípulos. E os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara, e prepararam a páscoa. E, chegada a tarde, assentou-se à mesa com os doze. E, comendo eles, disse: Em verdade vos digo que um de vós me há de trair. E eles, entristecendo-se muito, começaram cada um a dizer-lhe: Porventura sou eu, Senhor? E ele, respondendo, disse: O que põe comigo a mão no prato, esse me há de trair. Em verdade o Filho do homem vai, como acerca dele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do homem é traído! Bom seria para esse homem se näo houvera nascido. E, respondendo Judas, o que o traía, disse: Porventura sou eu, Rabi? Ele disse: Tu o disseste.