59. Bietan Jarrai é a inscrição que pode ler-se no símbolo da Euskadi Ta Askatasuna,
vulgarmente chamada de ETA, e que é, como todos sabemos, uma organização paramilitar nacionalista basca, fundada em 1959, mas que só depois de muitas centenas de assassinatos foi considerada uma organização terrorista, em 2003, pelas Nações Unidas e pela União Europeia.
Bietan Jarrai significa Ambos juntos e aparece debaixo do uma cobra enrolada num machado. Dizem os entendidos que a cobra significa o político e o machado representa a luta armada.
Não é preciso ser muito inteligente (afinal até eu percebi), que para a ETA, sem saber mais nada senão uma descrição asséptica, a luta armada e a intervenção política são indissociáveis.
Então, quando a ETA faz uma declaração de tréguas em Março de 2006 quer dizer que quer abandonar a luta armada e negociar o fim da violência? Não. Como se viu no atentado ontem no aeroporto de Barachas. A ETA quando pede uma trégua, quer parar o jogo para se rearmar, para se organizar, para poder regressar com mais intensidade. Sem violência a ETA não tem razão de ser.
Mas José Luis Rodrigues Zapatero, presidente do Gobierno espanhol, não entendeu assim. E baixou a guarda. Transferiu etarras para mais próximo das suas famílias, parou a intensidade da perseguição e fingiu que não via a organização a reorganizar-se no País Basco Francês.
Zapatero é estupido? Foi incompetente? Naturalmente que não. Quando um presidente do Gobierno deixar de respeitar uma trégua, está a declarar que o problema do terrorismo etarra só se consegue resolver com a guerra civil. Não nos esqueçamos que até o terrorismo de Estado, ao estilo da Mossad israelita, os espanhois tentaram. Zapatero fez o que pode e agora fornicou-se.
O terrorismo regressou, o dialogo parou, mas o processo de paz não terminou, disse ontem Zapatero. Pois bem, o próximo passo está do lado de quem? Ortegui, que é uma especie de porta-voz da ETA pediu, cinicamente, digo eu, que não parasse o processo de paz… Zapatero tem um problema…
Já aqui assumi o meu anti-iberismo. Não sou um espanholista e a questão basca para mim é um assunto muito interessante. Com saudade recordo as conversas com o meu irmão Manuel Andrade Vicente sobre a questão etarra. É engraçado ver que dois rapazolas, para aí desde 1998 discutiam este problema nos termos em que a questão é ainda hoje colocada na mais alta esfera da negociação. Desculpem-me a falta de modestia, mas volta e meia lá me acontece.
Um referendo. Seria uma solução democrática para resolver a questão basca. Mas quem votava? O Manel defendia que só os bascos. Mas quem são os bascos? Franscisco Franco, foi um direitista mas aprendeu os truques de Estaline e do mesmo modo que Joseph encheu as repúblicas soviéticas de russos, também Francisco encheu o País Basco de castelhanos. Mais, Franco conseguiu dividir, o que é para os etarras uma nação, em três pedaços: A parte francesa (dividida por natureza), a parte conhecida com esse nome, mas ainda há Euskadi em Navarra. E também aí quem votará? A auto-determinação iria querer juntar também a parte de Navarra!
Logo é um problema dificilmente solucionável através de referendo. O plano Ibarretxe (tem o nome do lehendakari – chefe do governo autonómico) do Partido Nacionalista Basco foi discutido e até implementado para um dia se poder fazer um referendo. O nacionalismo democrático está constantemente a ser desmoralizado pelo nacionalismo terrorista.
Espanha tem um problema: Está a acabar e ainda não percebeu!